quarta-feira, novembro 16, 2016

UM SONHO ABERTO



Talvez viver seja isto: frequentar diariamente um céu e um inferno que nos habitam, que nos frequentam, que fazem moradia dentro de nosso ser povoado de medos, mistérios, alegrias e perplexidades. 

Talvez viver seja essa percepção ora dilatada, ora limitada do que efetivamente somos ou pensamos ser diante de um Universo que se manifesta escancaradamente aberto, zombeteiro e cheio de novidades diante de nossos olhos infantis e curiosos. 

Talvez viver seja não sentir medo diante da imensidão do Portal que julgo escuro porque confere a todos que o atravessam a sua solidão e a solidez de sua invisibilidade. 

Talvez viver seja morrer de medo diante desse mesmo Portal!

Talvez viver seja este brincar de adivinhar, este jogo de intuições, este se contentar com  máscaras diante de um espelho  reflexo produzindo constantemente sombras opostas à luz, num singular baile a fantasias.

Talvez viver seja pensar que somos uma infinetesismal fração matemática organicamente cumprindo ciclos, abrindo e fechando círculos, desenhando infinitas espirais...


Na concha em que me encontro, vibra a ostra assustada que sou. Ainda não consegui fabricar a pérola do dia e já contemplo a noite que silenciosa chega. Espio o mundo, ora trêmula, ora animada. Quero tempo. Mais luz no azul. Para mim, o céu continua vasto e indecifrável, a praia, sem limites, minha trajetória, incompreensível e meu corpo, um sonho aberto ciclando as estações. 


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