como este botão em flor exibindo-se glorioso nesta luz da manhã!
Sem abrir a boca
Somos como árvores. Continuamos precisando de ar e água, luz e calor, em qualquer idade ou estação. O passar dos anos só nos dá grandiosidade de raízes e ramos. Com os cuidados adequados, continuamos florescendo!
Tento colocar um pouco de ordem e lógica
na rotina de meu dia a dia.
Quero me sentir segura.
Mas a vida que invisível pulsa por entre as horas que silenciosas escorrem
vai reconfigurando novos desenhos no tapete do meu dia
E, de repente, sem prévio aviso
Eis que me vejo assim
Experimentando este sentimento de absoluto desamparo
Num chão interno que treme
E me desata esta vontade enorme de fugir
Sem saber pra onde
E nem ao menos de quê.
Um escritor célebre em Paris entrou na loja de Mathilde certo dia.
Não estava procurando um chapéu.
Perguntou se ela vendia flores luminosas de que ele ouvira falar,
flores que brilhavam no escuro.
Disse que as queria para uma mulher que brilhava no escuro. Ele podia jurar que, quando a levava ao teatro e ela se sentava nos camarotes escuros com o vestido de noite, sua pele era luminosa como a mais primorosa concha marinha, com uma suave luminescência rosada.
E ele queria as flores para que ela usasse no cabelo.
(Anais Nin, Mathilde in Delta de Vênus)
a paixão
o grito
o choro
o torpor
o tremor
a leveza
a tontura
o rodopio
a raiva
o ranger de dentes
o riso aberto
a gargalhada sonora
a loucura nua, ardente, pungente
o perdão
a náusea
o vômito
a insônia
o vazio
o pleno
o tudo
o nada
o desmaio
a dança
a contradança
as inumeráveis alianças
o brilho da minha voz
o tato
a pele
o cheiro
a língua
as mãos
o deserto
o desertor
a cratera
a ferida aberta
a febre
a cura
a cicatriz
o encaixe
o cobertor
minha canoa
meu rio
minha sardinha na brasa
meu sol
meu céu
meu lúmen
minha seiva
o sêmen
a saliva
o suor
a gosma
meu alimento
a cumeeira dos meus sonhos
o chão ardente de minhas loucas fantasias
o portal dos meus febris desejos
o sexo
o prazer
a dor
a vergonha e sua falta
a inocência
o sem senso
as muitas noites e dias de amor
as muitas horas sombrias de solidão
o milagre
o mistério
e agora este silêncio
tatuado com esta saudade e uma tristeza que não sai de mim...Não sai...
ESTE ÚNICO ESPETÁCULO?
ESTA ÚNICA ESTRÉIA?
ESTA ÚNICA ACROBACIA?
ESTE SALTO NO ESCURO?
ESTE ABISMO ESCANCARADO?
ESTA BARRA, ESTE TRIZ?
ESTA SOLITÁRIA CORDA BAMBA?
UM ÚNICO TRAPÉZIO?
UMA ÚNICA CHANCE?
UM ÚNICO FIO?
UMA ÚNICA VERTIGEM?
UM ÚNICO E ÚLTIMO ATO DE LOUCURA?
ESTE SOLUÇO?
ESTE SUOR MISTURADO NUMA BRINCADEIRA ÚNICA?
UM ÚNICO GOZO?
UM ÚNICO GESTO?
UM ÚNICO SUSTO?
ESTA ÚNICA LABAREDA ACENDENDO UM CLARÃO NA NOITE ESCURA?
ESTE ÚNICO FOGO REDUZINDO-SE A BRASAS INCANDESCENTES E ESFRIANTES?
ESTA ÚNICA E ÚLTIMA SONORA GARGALHADA?
UM ÚNICO LADO?
UMA ÚNICA VERSÃO DOS FATOS?
E ESTA MOEDA COM UMA ÚNICA CARA?
E DEPOIS?...
MAIS NADA?...
SÓ SOMBRAS E SILÊNCIOS?...
SÓ DOR E MEMÓRIA?...
SÓ PÓ E HISTÓRIA?!!!...
ME RECUSO A ACREDITAR!
POBRE VIDA HUMANAMENTE INVENTADA!
ESTREITA DEMAIS...
FRÁGIL DEMAIS...
INSEGURA DEMAIS...
EU QUERO É MAIS!
PARA ALÉM DO SUSTO
ME REINVENTO
TEÇO TRAMAS, ENREDOS...
CONTO ESTÓRIAS PARA MIM MESMA
ME ACALENTO
E COM OS FIOS DA TRAMA QUE VOU TECENDO
VOU ELABORANDO UM SEGUNDO, TERCEIRO, QUARTO, QUINTO TRAPÉZIOS...
QUANTOS VIEREM...
QUANTOS SE FIZEREM NECESSÁRIOS...
E ABRINDO AS MÃOS NOS ESPAÇOS
VOU REFAZENDO NOVOS PERCURSOS
REDESENHANDO NOVOS ESPELHOS DE MUNDOS
COM NOVOS CAMARINS
NOVOS BASTIDORES
NOVOS PALCOS
NOVOS HOLOFOTES
NOVOS FIOS
NOVOS OUTRAMENTOS E DENTRO DELES
EU
VOCÊ
NÓS
NOSSOS AFETOS
EM NOVOS E INSUSPEITADOS CAOS
REGIDOS PELO GRITO DO INSTANTE:
- SENHORAS E SENHORES, ADMIRÁVEL PÚBLICO PAGÃO!
EIS-NOS AQUI DE NOVO
EM NOVAS E EMOCIONANTES PIRUETAS
E ARRISCADAS ACROBACIAS!
BENVIDOS À MAGIA DA VIDA!
Parodiando Clarice (a Lispector!), busco ser legível quase no escuro(para-mim-mesma-em-primeiro-lugar-evidentemente-e-de-preferência!)
Procuro uma compreensão que seja só minha. Somente minha e de mais ninguém. Às vezes penso que nem você, nem ninguém precisa me entender. Não estou obrigada a fazer parte da espécie humana inteligível, decifrável, comunicável. Quem quiser que perca tempo, mas seres humanos serão sempre assim: INDECIFRÁVEIS AINDA QUE PALATÁVEIS!
(abroparênteses):
É... COM O PERDÃO DA PALAVRA,
FODER É BOM, VAMOS SER REALISTAS!
E - AGORA JÁ SEM O PERDÃO DA PALAVRA! -
TALVEZ A MELHOR PARTE DA VIVÊNCIA NESTE NOSSO ESTRANHO LATIFÚNDIO SEJA EXATAMENTE ESTA:
COMER, BEBER E FAZER AMOR, SEM O MENOR PUDOR!
(fech0parênteses e pontuo sem discussão!).
Bom... mas voltando ao assunto principal sem querer me enveredar por outros caminhos... Continuo perdida em labirintos procurando os fios de ariadne nesta minha estória de vida, pois preciso voltar a respirar... Continuo me sentindo este ser disparatado e incompreensível! Uma (quase)estrangeira dentro de mim mesma. Estranhos e insuspeitos sentimentos e arrepios invadem territórios de meu corpo e minha alma. Procuro ser gentil com eles - juro! - ainda que aos berros e com uma delicadeza que só eu consigo ter para comigo mesma, GRITO:
HELLO, STRANGERS!
WELCOME HOME!
ENTREM, POR FAVOR!
SENTEM-SE
E SINTAM-SE BEM À VONTADE!
ESPALHEM-SE...
A CASA É SUA!
SE INSTALEM CONFORTAVELMENTE, AMORES...
MAS,
SEM MAIORES ESTRAGOS,
PLEASE...
Mas...
a grande verdade é que...
eles...
estes estranhos e náufragos sentimentos que me habitam
nunca andam ou vêm sozinhos...
Fazem parte de uma gangue
e chegam em bando
fazendo barulho
tirando-me a paz e o sono
e provocando estragos outros
a começar por esta súbita falta de ar
este vazio no estômago
este buraco no peito
esta náusea diante daquilo que não consigo decifrar
e as muitas lágrimas que ainda insistem em brotar...
Caminho pelas estranhezas da vida com os olhos arregalados, a boca seca e no peito a incômoda sensação de um buraco que se recusa a fechar seguido de uma falta de ar. Viver realmente é um ato experimental. Com certeza, a vida pode se encerrar sem maiores argumentos. Ponto. E não tem discussão!
Ante meu lamento e tosca incompreensão do que possa significar o insondável mistério da morte, a amiga me avisa: - Na vida, querida, só se movendo pela fé!
E eu que circulo por outros caminhos e entranhas..
Eu que sem querer acabo sempre optando pelas vias e vielas escorregadias da vida, entro em desassossego... Diante do imponderável e do mutante que deliberadamente medem minhas forças e emoções, fico procurando uma forma segura de reiventar essa caminhada inóspita que todos fazemos - particularmente eu agora! - por esse planetário chão tão amado-e-dilacerado ao mesmo tempo.
Meu problema é que não quero bíblias, não quero evangelhos, não quero alcorões, não quero religiões humanamente codificadas, catequisadas, com respostas bem explanadas...
Desculpem-me, Não!
Mas... Não nego: Preciso de um farol!
Sim, admito, estou perdida! E a noite está escura! E densa!
Mas, tenho procurado rezar.
E em minhas orações peço ao Grande Deus para que seja bondoso comigo e materialize em mim o faro, a audição, a visão, o tato e a percepção para compreender e ao mesmo tempo aceitar o quanto as coisas podem ser ora doces ou amargas, ora ásperas ou suaves, ora belas e alegres ou feias e tristes... apesar de todos os grossos agasalhos, dos felpudos cobertores, das confortáveis almofadas, dos casacos de pelúcia, dos travesseiros de pena, das luvas de pelica, dos óculos de lentes coloridas, dos chapéus de largas abas com que procuramos nos proteger...
Recito a Ele minha humanidade:
- Ó meu Deus, carente estou e vulnerável sou! Libera em mim afetos para que eu possa abraçar todos os fatos e circunstâncias com amor. Acolha minhas necessidades. Agasalhe minhas lembranças e me mostre no mapa deste estranho território em que ora piso um lugar onde eu possa depositar em paz minhas saudades e me fazer seguir adiante pela estrada da vida contemplando com serenidade os novos e imponderáveis espaços por onde o Ser objeto do meu afeto agora circula. Amém!
Espero que os textos aqui escritos possam cumprir a sua missão: viajar pelos espaços, desfazer os fios tênues das barreiras virtuais e espirituais que nos aprisionam, nos libertar de nossos imaginários exílios interiores e tocar a todos que aqui chegam. Ainda que à distância.
Sinta-se abraçado(a).