sexta-feira, julho 31, 2009

SONHO DENTRO DE UMA NOITE DE VERÃO



O rei mandara fazer um banquete

Com finas iguarias

para uma festa de sonhos.


A princesa

Bonita e sedutora

Vinha montada num cavalo branco

Com uma varinha de condão na mão.


Bem na hora do baile começar

O príncipe despertou

De estômago vazio

Procurando por Chapeuzinho de Cristal.

Mas ela se escondeu dentro da abóbora de um duende

no meio da floresta.

A abóbora virou um barco a vela

E ela foi nele passear por sobre as águas do grande mar.

O príncipe então ficou triste

subiu no cavalo branco

E desapareceu no meio da noite.

O castelo, que era de cartas, desabou.

E todo mundo ficou sem alegria

porque um amor

que era tão lindo

se acabou no verão, numa bela noite.



E aqui termina esse conto de fadas

Com um fim na cabeça

Sem pé nem começo!



E QUEM QUISER

QUE CONTE UMA ESTÓRIA MELHOR!



terça-feira, julho 28, 2009

DOR DE PARTO



Deixa eu chorar todos os mares

Que é pra lavar todas as dores

Até que solucem todas as contrações

E silenciem-se todas as contradições

numa alma leve e inocente

Incendiando de vida o dia sombrio.


Hoje quero Deus bem pertinho de mim

com muito colo e afeto.

Estou com dor de parto!



quarta-feira, julho 22, 2009

SOB OS ESPAÇOS PROTEGIDOS

(kirsti Langeland)


Gosto de calendários. Sei exatamente o dia e a hora em que nasci, o signo solar que me rege e o ascendente que me governa frente ao dia a dia. É ele que me predispõe para a troca e esse contínuo movimento de tentar me expor com palavras, querendo a ressonância de volta.

Na ata do universo de mim mesma, traço as linhas de mortes e ressurreições. São dores e amores que vieram e se foram ao sabor de inesperados acontecimentos e deixaram suas marcas, indiferentes ao que eu pudesse pensar ou querer.

Meu corpo marca o tempo independente de minha vontade. Não tenho sobre ele absoluto controle. Sua autonomia vez por outra me incomoda. Mas não lhe ofereço resistência. Os ciclos lunares assim como chegaram numa bela tarde de verão de juventude, também partiram na meia idade, incendiando-me o corpo, sem retirar-me o sol, o suor e o desejo.

Pulso ao sabor das marés e me sinto ora plena para o abraço e o regaço, ora vazia e despreparada para o acolhimento do inóspito e indesejado.

Sou capaz de viver as quatro estações da vida num mesmo dia. De me sentir surpreendente nova como um broto abrindo seu olho sob a crosta aparentemente dura de uma árvore. Ou muito antiga como se estivesse em profunda comunhão com a memória das milenares pedras que sustentam uma montanha.

Como a lua, também tenho minhas fases que regem seu fuso por meio de desertos e oásis. Por sobre chuvas e calores abundantes. Maremotos e calmarias. Sempre imprevisíveis, apesar de minha audaciosa e sempre fugaz tentativa de controlar o absolutamente incontrolável.

Da duração da caminhada, nada sei. Me contento apenas com esse gesto de andarilha que aprecia o caminho, ainda que algumas vezes escorregadio e apesar de suas muitas encruzilhadas que me impõem escolhas, sem advertências quanto aos perigos e me exigem um constante aguçar dos sentidos.

Aprendi que de nada adianta continuar chorando por aquilo que não volta mais. Mas que se deve chorar o bastante para lavar a alma de todo luto e tristeza que, por ventura, resistiu em ficar. E, depois, é seguir adiante celebrando o êxtase de cada novo acontecimento pontuado de pequeninas felicidades.

Gosto desta ilusão de estrelas se movimentando no céu e confundindo-me os horizontes. Faz-me pensar o quanto ainda me movo pelo que nada sei, muito embora pense saber!

Abro-me em espirais diariamente como um caramujo que não para de crescer em sua geometria e encosta seu grande ouvido aos ouvidos do mundo para dele apreender os sussurros e dele se recolher quando a algazarra se mostra incompreensível ou assustadora.

Mais do que lançar-me para a frente, giro sobre mim mesma, lentamente me abrindo para as horas que nascem interminavelmente diante de mim. Sou uma concha canhota: magicamente habitada por pássaros, lebres, cervos, leões, lobos, cachorros, crocodilos, borboletas, árvores, raízes, sementes, flores, musgos, pérolas, pedras e muitas cabeças humanas!



terça-feira, julho 21, 2009

VALSA



Gosto de rodopiar em torno de mim mesma até sentir todas as tonteiras e, assim tonta, cair-me perdida, deitada ao chão vendo o céu azul todo se balançar, a terra tremer e meu corpo vagar ondulando no espaço... Por sobre a minha cabeça, nuvens...Tão próximas que posso tocá-las com minhas mãos. E nessa hora, fico sem relógios... No corpo e na alma... A vida fica tão leve! E é tão grande a sensação de paz que penso que não existe outra forma de se entrar em contato com Deus!



DENTRO DE UM ARMÁRIO

(Klint)


Dentro do armário respiro a vida que pulsou – e ainda pulsa! – dentro de mim. As muitas coisas ali guardadas não me explicam o que sou. Continuo perplexa diante do Insondável Mistério, mas gosto de pensar que sei um pouco de mim.

O espelho, que tenta me revelar, traz-me apenas uma fluida imagem. Mesmo assim, escolho com cuidado e graça a roupa que devo vestir e as cores que irão combinar com meu dia. Passo o batom nos lábios traçando seu contorno com apuros de mulher. Sou vaidosa. Coloco um pouco de blush nas faces, um leve risco de lápis para acentuar o olhar e, pronto! Estou preparada para a Vida!

Diante de olhos que querem ver além, um pouco além, só a pobreza deste instante perplexo que nada diz. Nada consigo ultrapassar além deste momento de dúvidas e inquietações. O que virá depois disto? O que as próximas horas me revelam além de uma agenda de compromissos e afazeres diuturnos? Melhor pensar que tudo estará certo no seu devido lugar. Que a agenda será cumprida em seus mínimos detalhes e que quando a noite chegar um travesseiro macio e um bom cobertor me esperam. E, se for afortunada, também uma boa e longa noite do amor feito sem pressas e com gozos infinitos!

Não quero os detalhes sórdidos das noticias que os jornais da noite espalham com alarde tirando-me a paz e fazendo-me pensar, com enorme pesar, que ainda vivemos num caos primordial e informe. Desligo a televisão, queimo os jornais e procuro nutrir-me de amenidades. Os homens insanos continuam por ai. Não os ignoro por uma questão de sanidade. Mas deles também não quero um vintém sequer!

São tantas as armadilhas, tantas as maneiras de me tirar a alegria de viver que prefiro me proteger. Minha couraça, aquela que construo com cuidados de bicho-da-seda, na verdade, são tão frágeis e delicadas como uma flor inocente à beira do caminho, disponível e prestes a ser subitamente arrancada. Que posso fazer a não ser ofertar a beleza e perfume desse momento também tão inocente! Nada mais me resta! Não tenho outra opção a não ser esta entrega imediata. Se o instante que vier for um desastre, esta entrega há de ser mesmo inevitável! Então, que seja,ao menos, carregada de beleza!

Destinos, horóscopos, adivinhações, quiromancias? Tão confortáveis! Mas leves como um véu transparente ao vento! Não me protegem dos raios e das tempestades! E muito menos do frio! Mas gosto de pensar que estou que de alguma forma amparada por essas linhas e que elas podem me revelar alguma coisa do insondável mistério. Me agarro então a elas! Já que preciso me nutrir de alguma forma, que seja de sonhos! O resto será, como já disse um grande mestre, silêncio!

E memórias guardadas dentro de um armário! Com uma pálida sombra de minha estória!


quarta-feira, julho 15, 2009

GÊNESE II


I – AS ORIGENS

1.1 – a Criação


Era uma vez uma planetinha a quem resolveram chamar de Terra. Ela circulava no espaço, junto com mais oito irmãos planetinhas. E não estava perdida. Tinha uma trajetória definida, sonhos e projetos de vida.


No início, como toda criancinha, vagava no espaço fazendo brincadeiras em torno de si mesma e do sol, despreocupada e livre. Parecia feia, como um patinho de brinquedo todo desarticulado. Parecia perdida, desajeitada e desengonçada. Afinal, era só uma montoeira de pedras e lavas de vulcões em chamas e matéria disforme. Mas o tempo foi passando e ela sempre rodopiando em torno de si e girando em torno do sol, em meio a chuvas, trovões e tempestades e muita água. Até que um belo dia, ela se des-cobriu: crescera, amadurecera e estava pronta para o amor. E se apaixonou pelo Sol que se tornou seu inseparável e amável companheiro. Com ele iniciou um grande romance. E ele aqueceu-a de muito amor e carinho, durante um cem número de luas. Se casaram e resolveram expandir esse amor aos quatro ventos. Foi daí que nasceram seus muitos filhos.


E o que era antes uma montoeira de pedras e poeira virou gente, bichos, plantas, bactérias, minhocas, flores, borboletas, formigas, lesmas, conchas, caramujos, golfinhos e tudo que é ser vivo e inteligente! E eles começaram ora a nadar nas muitas águas espalhadas por sobre a Mãe Terra; ora a rastejar pelo seu colo; ora a voar pelos ares! E a produzirem sons, cores, perfumes, calores e a irem ao encontro de outros pares iguais a si. Desses encontros nasceram outros amores, outros acasalamentos e muitos outros filhotinhos iguais a seus pais!


E assim a esperta e vivaz Planetinha Terra, feliz da vida, começou a se ver habitada por muitíssimas outras vidas inteligentes iguais a ela, só que com diferentes formas e graus de consciência!


Não somos um acidente (in)feliz do Universo ou estrangeiros nesse mundo. Nunca estivemos diante da Geologia da estupidez! Toda pedra tem vida! Vibra e tem som, e luz, e cores e idéias e consciência e pensamentos e sensações e sentimentos! Basta olhar para nós! E para tudo que pulsa à nossa volta!


Viva, que a vida é um espetáculo e você, como um milagre, faz parte dele!

terça-feira, julho 14, 2009

CARTA A UMA AGENDA PARA O MEDO


CG/RJ, 13 de julho de 2009



Caro Filósofo e Professor,


Ontem, ao assistir sua palestra pela televisão, fiquei sem saber se chorava ou se ria. A “ácida” viagem solitária que o senhor nos propôs logo de início - sem nenhuma pílula psicodélica gratificante - me deixou angustiada, num primeiro momento. No segundo tempo, fiquei atônita ante a possibilidade de só conseguir ver cadáveres, vermes e sepulcros, sem um vislumbre – mínimo que fosse – de sons, cores, perfumes e outras delícias de experiências táteis e gustativas! Felizmente sua voz me ancorou o tempo todo no “real”!

Já de algum tempo venho me decidindo a participar dessa festa que é a Vida com “trajes” os mais leves possíveis. É uma tática de (sobre)vivência que adotei. Uma tentativa de conseguir chegar um pouquinho mais longe e tentando ver um pouquinho menos do chão. Descobri que o riso e o bom humor são excelentes instrumentos para disparar essa leveza, sem reducionismos, à base de endorfinas. Então optei por rir muito durante sua palestra. Aliás, o senhor me pareceu um sujeito muito bem humorado. Naquela linha do humor negro, mas divertida! Acertei?

O Professor – permita-me chamar-lhe assim aqui - nos conduziu brilhantemente ao cerne daquilo que inexoravelmente somos: um enigma, ainda que "em ruínas"! Uma consciência facilmente danificável, amendrontada, em seu estágio experimental de compreensão acerca de si mesma, de suas fragilidades e deste Universo, que não é – nas suas palavras - o seu (da consciência) berço.

E eu que acreditava ser um sintoma do Universo!

Sim, porque, como diz Alan Watts, “não viemos para esse mundo, saímos dele”. E interroga: “O que você pensa que é? Se este mundo fosse uma árvore, você seria as folhas em seus ramos? Ou você é um passarinho pousado numa árvore morta?” Ou seja, pelo que entendi e comungo como tese de vida, a natureza é um útero grávido gerando toda sorte de “coisas”: gafanhotos, montanhas, estrelas, planetas, galáxias, vermes, vagalumes, rios, mares, golfinhos, baleias, frutos, sementes, borboletas, minhocas e... pessoas, seres humanos!

Esse sentimento de “pertencer” ao Universo muda bastante o nosso estado de angústia, pelo menos o meu. Pode até ser um mito, uma fabricação ilusória muito confortável, mas, com certeza, também, menos enlouquecedora. Prefiro essa idéia. Acho-a bem mais “real”. Me tira daquela zona de sofrimento de me sentir apenas um saco de pele consciente e perambulando perdida num mundo completamente sem sentido, incompreensível, inóspito e estranho e ao qual não pertenço! Aliás, não será esta crença responsável pela devastação ecológica por que passa nosso Planeta atualmente? De que não fomos por ele gerados? De que viemos de fora, numa mistura de deuses e astronautas, dispostos à conquista e colonização do Planeta? E nos utilizando de todo tipo de “armas hostis”? “Numa batalha vis à vis com o mundo fora de nós”, nas palavras do mesmo Alan Watts?

Acho que foi por isso que gostei tanto quando ouvi-o dizer que somos uma poeira, um fragmento cósmico molecular como uma pedra consciente. Senti-me mais cúmplice e íntima com este Universo regido por um permanente processo de mortes e renascimentos.

O senhor colocou muito bem a questão do nosso medo atávico e ancestral do qual não consegui(re)mos nunca nos libertar na condição de sermos um animal atormentado porque ainda não conseguiu responder às perguntas básicas: “De onde vim, para onde vou e por que estou aqui?” E por essa razão nos “agarramos” a algumas coisas na tentativa de nos fragilizarmos menos. Nas suas palavras ainda: “um animal que tem mais consciência do que devia”.

Fiquei aguardando ansiosamente que nos fornecesse uma luz para saber quando começaríamos nosso processo de “cura” deste medo ou saída deste poço sem fundo, sempre em vertiginosa queda livre e, aparentemente, sem nenhuma mola no fundo! E aí apon(r)tou-se a idéia do naufrágio: começaríamos a sair do buraco quando percebêssemos nossa experiência de náufragos jogados numa ilha. Ufa, foi um alívio! Pela primeira vez me vi dentro daquele filme “O Náufrago”, de Tom Hanks. E fiquei esperançosa; pelo menos ali o ator, injustamente, não ganhou o Oscar, mas o personagem alcançou a salvação!


Na sequência de tomada de consciência, foi muito desconcertante, ainda, me perceber fazendo parte de uma cadeia alimentar, sendo predador(a) e depredadado(a); vampirizador(a) e vampirizado(a). Já tinha percebido que o tempo faz isso comigo muito bem! E de uma forma bem sexy e graciosa! E deselegante também - sem cerimônias e consentimentos! O que não me impede de considerar isso uma injustiça!

Confesso que, como V. Sa., também sinto uma inveja enorme dos bois: aquele olhar de mansidão perdido, ruminando no pasto, alheios a tudo, sem saber o que o destino lhes reserva. Será que os inconscientes, anestesiados, drogados, enlouquecidos e os que vivem sob o mormaço da vida, sem conhecerem as próprias sombras ou a própria luz têm mais paz de espírito e são mais felizes? A ignorância e inconsciência é uma bênção? Ou maldição?

Também tenho em casa uma cadela. Chama-se Gaia – uma pastora canadense branca e linda que pertence a minha filha. Seus olhos faíscantes me transbordam todas as doçuras do mundo e me transmitem toda a paz de que necessito, principalmente quando me sinto assustada e com medo da vida e as palavras me chegam inúteis! Ela é minha “terapeuta” de todas as horas: me compreende em silêncio, me ouve sem acusações e se coloca sempre disponível, a qualquer momento do dia ou da noite! Sem me cobrar nada em troca! Desconfio que ela tem, surpreendentemente, uma “porção humana!”

Fiquei extremamente feliz quando, lá pelo meio da interessante palestra, o senhor disse que o Ernst Becker havia voltado a acreditar em Deus e retornado ao Judaísmo. O filho dele nascera e ele descobrira que aquela era uma “pedra” viva que se mexia, produzia sons, tinha cheiro, comia, arrotava, fazia xixi e cocô e interagia com seu meio ambiente! Pensei: Oh, Meu Deus, que bom! Nem tudo está perdido! Afinal ele (o Becker) descobriu que a transcendência é algo possível – e imanente - ao Humano. É também um bom sinal de que precisamos fazer - e dar e receber! - mais amor. E, talvez, quem sabe, de quebra, mais filhos, apesar de o mundo já estar muito superpovoado!

Minha vida, como a de muita gente que eu conheço, é feita de pequenos heroísmos cotidianos e sem (pedir) aplausos ou condecorações, a não ser o meus, claro! Me parabenizo todos os dias não só por estar viva, mas com disposição para encarar a faina de cada dia. Me aplaudo por não abrir mão de ter sonhos e lutar para que eles se materializem. E já que não sei de onde vim, nem para onde vou; já que Adão e Eva comeram a maçã para tentar decifrar este enigma e foram expulsos do Paraíso; já que Sócrates foi condenado a beber cicuta por “incendiar” a mente dos jovens; já que Platão e Aristóteles só tiveram intuições nada comprovadas; já que a maçã, agora já no século XVII, desacompanhada da serpente e da mulher e nas mãos do endeusado Newton e os “Iluminados” do século XVIII e toda a horda científica que se seguiu depois deles, dissolvendo a matéria, fazendo dançar a energia num salto quântico no tempo e no espaço - apostando na ciência como instrumento de salvação do homem e explicação do mundo e do Universo - só conseguiram atear mais lenha na fogueira medieval que aí está... sigo minha vida aproveitando o intervalo – o aqui e agora – este presente cuja eternidade e impermanência é a única coisa que conheço e da qual posso escolher (será?) desfrutar com gozo, dignidade e prazer de viver! Será que vou ser recompensada no pós-final?

Fomos condenados inexoravelmente a vivermos fora do Paraíso, mas não necessária e obrigatoriamente a perdermos nossa alma ao habitarmos esse lado avesso da Vida onde o pior ladrão é aquele que rouba nossos sonhos! Nessa estou com Diógenes: “Não me tires o que não me podes dar!”

Aguardei o final ansiosamente, acreditando que viria uma seqüência de perguntas de uma platéia ávida por debater as idéias suscitadas. Mas tudo acabou como uma sessão de terapia lacaniana: um corte abrupto e só a(s) pergunta(s) no ar! As reflexões ficaram como nosso dever de casa. Fiquei um pouco desapontada e me sentindo um tanto ou quanto “estranha” e desconfortável nesta “pele nova” que descobri mas... como em todo processo terapêutico (no caso, filosófico), faz parte do contexto, não é verdade? Estou aproveitando, então, agora para fazer a minha lição de casa, refletindo sobre tudo que ouvi e escrevendo esta pequena carta, que nunca será mandada. Ela foi escrita, em primeiríssimo lugar para mim mesma. E para meus “fantasmas” e “vilões” internos que me assaltam, vez por outra, diante de minha contemplação frente ao implacável deus Chronos. O vocativo no ínicio é apenas um mero exercício de minhas fantasias. A presente vai acompanhada de um afetuoso muito obrigada e sem nenhum pesar pelo inevitável medo que a tomada de consciência, em alguns momentos, me despertou!

Estou como no início dessa escritura: num passeio socrático pelos sagrados territórios da consciência daquilo que sou, da Vida e do Universo. Com as mesmas mãos inicialmente vazias e a alma nua, na linha do “Tudo que sei, é que nada sei”. Sem respostas e com muitas perguntas. E algumas até bem tolas!

Talvez meus “filtros emocionais” não me tenham permitido entender nada de sua palestra. Talvez tenha entendido muito pouco. Ou, talvez quem sabe, afortunadamente, tenha captado tudo em sua inteireza! De qualquer forma, obrigada por ter me proporcionado esta reflexão.


Cordiais Saudações


Maria Helena


OBS.: Palestra disponível no site: http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-agenda-para-medo-luiz-felipe-ponde

domingo, julho 12, 2009

GÊNESE I

(kirsti Langeland)


I – AS ORIGENS

3.1 – a Culpa Original



Certamente se a estória de Adão e Eva e o Paraíso tivesse sido contada por uma mulher, a narrativa dos fatos teria sido bem outra: um macaco esperto e mal intencionado teria convencido Adão de que poderia ser o senhor e dono do mundo, retirando Deus facilmente do trono, somente por comer do fruto proibido da maçã. Ele, Adão, por sua vez, teria ficado maravilhado com a ideia e convencido Eva a também provar do fruto para ficar mais bela, cheia de adornos e feliz com a vida, o marido e os filhos. Estes seriam chamados de filhos do pai e da mãe.


Mas não foi bem assim que os homens resolveram contar a história, que não vale a pena repetir aqui, porque todo mundo já conhece bem!



Alguém tem sempre que pagar o pato pelas coisas que dão errado! Por isso, até hoje, ser filho do pai é divino e filho da mãe, diabólico. Há muita mãe solteira e muitos filhos sem pais espalhados por este mundo de Deus. Os homens continuam se achando inocentes na história. E nós, mulheres, nessa de querermos nos livrar dessa culpa original, estamos perdendo o bonde da nossa estória! Ora somos de “cama e mesa”, ora caímos na pista da dança da vida, joelhos ralados, de porta-estandarte e pastas executivas na mão, cansadas de carregar as bandeiras sozinhas e lamentando pela nossa solidão! Desconfio de que quem contou essa estória, contou tudo errado. Acho que já está na hora de começarmos a ouvir as testemunhas. Por favor, façam entrar a serpente!


sábado, julho 11, 2009

O CAMINHO PARA ÍTACA

(Picasso)


Se partires um dia rumo a Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
No teu caminho jamais os encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se subtil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás-de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás-de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egipto peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor será muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te punhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu.

Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Konstandinos Kavafis (1863-1933)



COMBATENDO OS COMPORTAMENTOS ALZHEIMERS DOS NOVOS TEMPOS (ou: Precisamos contar – e ouvir – mais histórias!)

(Caio Borges)










Na novela “Caminho das Índias", a personagem Laksmi, matriarca da família, vive criticando a nora, Indira, por não ensinar nada aos filhos sobre os costumes e viver arrastando o sári pelo mercado, fazendo seu comércio. A nora, por sua vez, se sente angustiada porque, muito embora saia para fazer seu trabalho, não descuida da casa e muito menos dos filhos, repassando-lhes os valores e ensinamentos familiares e coletivos que devem ser preservados. Estes, os filhos, por outro lado, se situam no mundo pós-moderno, globalizado e sofrem a influência do seu tempo. Ouvem os mais velhos, mas pensam diferente deles e se recusam, muitas vezes, a aceitar se comportarem conforme os ensinamentos e tradições. E por aí seguem-se os conflitos entre aquelas gerações.


Olhando esse fragmento da novela, aqui bastante resumido, fica uma reflexão sobre o que parece ser hoje uma entre as muitas angústias dos tempos atuais. Seja no âmbito familiar ou fora dele, onde os comportamentos e suas digressões – tanto da juventude, quanto dos adultos - parecem assaltar a sociedade atual.

Na contemporaneidade, a tradição e os bons costumes herdados do passado são associados a atraso em oposição a progresso. Não há mais valores reconhecidos e estabelecidos como fundamentais para conferirem sentido às nossas existências. O insólito hoje é ter comportamentos pautados em valores. Perdeu-se o sentido das experiências acumuladas oriundas de um tempo pretérito como instrumento de redenção, cujos acontecimentos re-per-cutiriam no presente, ampliando vivências e acontecimentos. A experiência contemporânea não se faz mais por meio do excedente de sentido das tradições que poderiam nos orientar e nos ajudar - na vida e no pensamento – a en-frenta-rmos o mundo com fortuna e boa sorte. E dele naturalmente desfrutarmos e apreciarmos de uma forma saudável, com prazer e alegria de viver.


Segundo o filósofo Walter Benjamin, no mundo (pós)moderno, vivemos não só a experiência da pobreza, mas a pobreza da experiência. Ou seja, a experiência de um presente vazio, carente de recordação. Nas suas palavras, “as rugas e marcas em nosso rosto são as assinaturas das grandes paixões que nos estavam destinadas. Mas nós os senhores não estávamos em casa”.


Vive-se, na atualidade, não mais sob uma Sociedade do Escândalo e, sim, sob a égide de uma Sociedade do Sensacionalismo ou Espetaculosa (ou do Marketing reforçando e criando fetiches e outras ideologias e falsas felicidades), movida a impactos tanto súbitos, quanto breves.


Na Sociedade regida pelo Escândalo existe uma ética. O fato que escandaliza por transgredir as regras e os costumes sociais salta a olhos vistos e é, imediatamente, repelido pela sociedade como um todo. O grupo social tem valores que respeita e deseja verem preservados. Por isso mesmo, repudia o ato e exige sua correção e imediata volta à normalidade.


Na Sociedade Sensacionalista, ao contrário, os atos transgressores são imediatamente absorvidos, metabolizados, sem que haja a contrapartida da exigência do retorno à normalidade. A sociedade assimila praticamente tudo! Sem exemplaridades, sem aperfeiçoamentos ou possibilidades de aprendizados coletivos! Há uma patologia de valores. Uma banalização. Perdem-se os critérios para se reconhecer o que é belo ou feio, o que é bom ou que é mal, o que tem ou não dignidade. Praticamente tudo parece ser permitido e admitido. Seja em nível individual, social, ou político. Tudo pode ser exposto, exibido, mostrado. Como numa pornografia!


É evidente que não é o todo do passado que deve ser preservado! Não se quer advogar a tese de que estamos aqui para viver de relíquias ou mausoléus históricos, muito embora nossas raízes históricas – sejam elas pessoais, familiares ou coletivas – continuem nos conferindo um sentido do exemplar e uma orientação para encararmos a vida que se coloca diante de nós a cada instante.



É forçoso reconhecer que o mundo muda, a sociedade se transforma, a vida se recicla e o universo se encontra em constante expansão! Porém, recepcionar do passado aquilo que continua aguçando nossos sentidos e valores e que pode nos fortalecer e nos ajudar – alargando nosso conhecimento e sensibilidade – na travessia pelo presente, deve ser não tão-somente preservado, como também reinterpretado como memórias – ou tesouros! – que não deveriam ser esquecidos. Ou que merecem ser resgatados e respeitados. Somos feitos ao mesmo tempo de esquecimentos e lembranças!



Sem as marcas do tempo – sejam elas as rugas no nossos rostos, ou na memória pessoal, familiar ou coletiva – não temos história. Sem história não temos vínculos. Sem vínculos, estamos desgarrados, à deriva. Onde buscaremos nossas “réguas” e “compassos” para geometrizarmos nossos novos espaços?!

quarta-feira, julho 08, 2009

ESCOLHENDO UMA, ENTRE AS VÁRIAS MANEIRAS DE OLHAR AS COISAS


Me perguntaram se eu estava ganhando dinheiro com este Blog.

Respondi: - VÍDA!(1)

E dei uma sonora gargalhada!



(1) Os gramáticos vão me processar! Estou transgredindo todas as leis da Ortografia. Que posso fazer? Contratar um advogado????