segunda-feira, junho 29, 2009

HOMENAGEANDO PALHAÇOS E CIRCOS EM RESPEITO AO UNIVERSO DA SONORA GARGALHADA


Ao Grupo do Picadeiro Quente


Perdido seja para nós aquele dia

em que não se dançou nem uma vez!

E falsa seja para nós toda a verdade

que não tenha sido acompanhada

por uma gargalhada!

(Nietzsche)

Só escrevo o que vivo.

Só escrevo o que sinto.

Só escrevo o que sei.

Ou o que penso saber.

Às vezes invento, é verdade.

Faz parte das minhas horas de folga

também sonhar!

Afinal, no meu cardápio, também se incluem fantasias!

Minha vida não é só trabalho, lutas e desafios!


Tenho meus momentos de solidão e de companheirismos.

Ultimamente, o primeiro me devora mais do que os segundos.

E de uma forma bem sexy, é verdade!

Mas sigo em frente!

Navegar é preciso.

Viver é que é impreciso.

Quem dera tivéssemos bússolas!

Estaríamos todos tão seguros nesse mar!

Satisfeitos, dormiríamos, não é mesmo?

Como todos os animais!


Mas, como eu ia dizendo

Entre outras coisas boas da vida

Também não dispenso uma boa gargalhada.

E não gosto de perder a piada.

Embora eu mesma nem seja assim tão engraçada!

Mas, reverencio a alegria.

Entre a comédia e a tragédia, fico sempre com a primeira.

Gosto de circos, gosto de palhaços, gosto de pipocas.

Gosto do picadeiro e seus equilibristas.

E daquela luz, sempre encantada

pairando sobre a bailarina!


O mundo ficou muito sem graça.

Os homens ficaram sem graça.

A vida se desencantou.

Sem cantos e danças, matamos a criança dentro de nós.

São tantos os nós, as gravatas apertadas, as pastas pesadas, os atlas curvados.

Tantas reverências, tantas eloqüências, tantas continências.

Perdemos as referências!

Nosso grito primal ficou sufocado.

Estamos nus, embora muito bem vestidos.

Não é de se espantar que o álcool e as drogas

estejam aí para nos anestesiar!


Mas o espaço da vida continua tatâmico e totêmico!

Precisamos de força, sim

mas também de riso, graça e piada.

Quem foi mesmo que disse

que o universo não passa de uma sonora gargalhada?



Acredito no riso como cura da dor!

Acredito no palhaço como fonte de amor!

Acredito no circo como espaço do redentor!

Quero o palhaço de volta!

Sua vida, sua folia!

Seu encanto, sua magia, dando brindes à alegria!

Viva o picadeiro quente!



DE MULHERES, HOMENS E ROBÔS (Envelhecer ficou proibido)



Em que espelho ficou perdida nossa face? Que memórias do tempo tatuam nossos corpos e nossos espíritos? Onde estão nossos fluxos com suas alternâncias e pulsações? Por que as belas de ontem se transformaram nas feras adormercidas de hoje? Onde está aquela sombra primitiva e sagaz que se põe sempre atrás de nós sob quatro patas, vigilante, preservando o território? Por que esse desejo febril - muito além dos 40 graus ou dos 40 anos! - de continuamos belas e alienadas? Por que essa idêntica sangria contaminando o território masculino? Em que mitos se apóiam nossos atuais cavalheiros? Onde estão seus heróis montados em seus cavalos que sabem falar inglês? Em que recantos sombrios e escuros do jardim (não mais) se escondem seus caubóis? Onde estão o rei e seus cavaleiros? Os príncipes e seus dragões?


Nossas terras espirituais estão sendo saqueadas, condenadas, reduzidas e esmagadas. Por que temos que nos forçar aos ritmos artificiais de outros cios e ciclos? Onde estão nossos naturais refúgios? Por que não podemos continuar naturalmente mutantes? Por que estamos ficando desertos de nós mesmos? Por que nossa pele e nosso corpo perderam sua vida própria? Por que as águas atuais só querem refletir imagens desencarnadas de antigas forças?


Nos prendemos no cativeiro. Não contamos mais nossas idades pelas marcas de nossos combates, ou pelas estórias que vivemos (com seus finais felizes ou não), ou, ainda, pelas lembranças de momentos fortes em nossas vidas. Não assinalamos mais nossas passagens pelas vezes que abraçamos, demos sonoras gargalhadas universo a fora e beijamos de tirar o fôlego! Em que gavetas da memória ficaram registrados nossos vínculos, nossos ninhos, nossas crias, nossas teias, nossas armadilhas e o calor de corpos suados, cansados e felizes?


Nosso chão interior se esfriou, nossas garras se esfriaram. Nós nos resfriamos. Esquecido de si, o corpo se congela no tempo, se divorcia do relógio, em meio a balbucios e risos abafados de botox, lipos, liftings, silicones, drenagens. Já não respira mais em seus movimentos sutis, delicados, imperceptíveis. E, enquanto isso, os termômetros continuam registrando muito além de 40 graus, o Planeta está febril e rios subterrâneos continuam se abrindo em chamas. E nós, aqui, nos petrificando. Um dia viramos robôs!

domingo, junho 28, 2009

PARA ME LEMBRAR NOS DIAS (E NOITES) DE CALOR E FRIO


Escrevo com quem oferece uma deliciosa barra de chocolate aos amigos e amigas. Ou um confortante (ou não!) chá quente nas noites frias, ou uma refrescante caipirinha nos alegres dias de verão. Ou, ainda, como quem quer dividir a rede ou o calor do cobertor com o amado, em longas horas de amor. Ou se dispõe a espalhar a música no ar, por entre vibrações de flautas e violinos.


Nem sempre tudo o que digo faz sentido. Nem sempre busca a lógica ou a coerência. Nem sempre é tão doce e confortante como gostaria que fosse. Nem sempre tão dançante, tão brincante, tão cantante, tão emocionante! Mas a vida é mesmo assim: alterna doce e azedo, calor e frio, luz e sombras, suor e arrepios, amor e dor, riso e lágrimas, loucuras e sanidades, suavidades e asperezas. Tem horas é em que é preciso beber o chá, mesmo que amargo. Precisamos dessas alternâncias em suas múltiplas texturas, cores, odores, temperaturas para nos sentirmos vivos. Mais que vivos, solidarizados, irmanados, imbricados na grande teia da vida e seus inúmeros relacionamentos humanos. Não somos só o homo sapiens. Somos também o homo ludicus, o homo fabricus, o homo mitologicus, o homo amicus, o homo amorosus, o homo fragilis, o homo complexus. Somos múltiplos homus dentro de um homo só! Um homo emocionadus que sonha de dia e acorda de noite, entre labirintos e minotauros.


Não sou, nem de longe, dona de mim, embora me conforte, frágil/forte, me dizendo que “sim!”. E como Goethe, quero (sempre) mais luz!

sábado, junho 27, 2009

RETRATO SEM RETOQUES: Nada melhor do que fazer o amor com a pessoa certa, na horas incertas e nos locais mais incertos ainda!


Todos os espíritos me convocam! Não posso me calar e deixar de perguntar: Alguém sabe me dizer se essa estória agora de fazer filhos em bancos e outros territórios que não sejam os deliciosos do Jardim do Éden está na moda, é mesmo verdade? Os artesãos do amor-à-moda-antiga estão se tornando espécimes em extinção? Estamos mesmos abrindo mão desse prazer primitivo e original?

Que a net está aí linkando o a-mor-te-©-lado nos bastidores das intimidades humanas, já é um fato consumado. Mas daí, a outros saltos quânticos, passa a ser preocupante!


Que os céus nos protejam dos desejos ácidos, dos comportamentos desertos e dos costumes anti(eco)lógicos, não amorosamente sustentáveis! Em nome do respeito às boas e velhas tradições! Love is in the air! E não só no ar, mas também, na terra, no fogo, na água e, sobretudo, em cada poro de nosso corpo! E suas partículas têm propriedades mágicas, são magnéticas: Seatraem-e-seexpandem-e-secontraem-diaenoite-noiteedia! Seguem a lei da atração, da sedução, da magia, do encantamento, do prazer. Só assim poderemos, um dia, nos curar do sentimento de medo do(s) Escuro(s)!

sexta-feira, junho 26, 2009

LIVRO DE TRAVESSEIRO DE UMA MULHER DÓCIL E SELVAGEM AO MESMO TEMPO (Confissões de um solene “SIM!”, ao pé do ouvido)


Se penso no mundo? Se penso na vida? Se penso no amor? Se ainda quero o calor? Se ainda faço geleias e prego botões? Se conto estrelas e faço pedidos? Se viro criança? Se me sinto anciã? Se confundo os caminhos? Se perco meus freios? Se me descabelo, digo impropérios e vou à loucura? Se choro, grito, faço manhas e uso de artimanhas? Se dou gargalhadas, conto piadas e sou obscena? Se canto, danço, pinto e bordo e quero mais vida? Se desperto atenções? Se caio de amores e fico de quatro no ato? Se ultrapasso sinais? Se mando pro inferno? Se ardo em fogueiras? Se uivo pra lua? Se afio minhas garras e me imponho na marra? Se vou à loucura? Se gosto de colo? Se faço carícias? Se gozo de amor? Se fico de mal? Se bato a porta, o portão e chamo de ladrão quem roubou meus sonhos? Se fico assustada? Se falo sozinha? Se sinto preguiça? Se sonho acordada? Se visto a fantasia? Se me desaponto? Se vejo fantasmas? Se quebro a cara e ralo os joelhos? Se disfarço a tristeza? Se pinto o sete? Se sei fazer cafuné? Se faço caretas? Se me faço de boba? Se tapo os ouvidos e só ouço o que quero? Se engulo meus sapos? Se prego mentiras? Se sinto arrepios? Se não me reprimo? Se mudo de ideia? Se fico com a cabeça nas nuvens e me sustento na vida real? Se prendo a respiração? Se perco as palavras? Se guardo segredos? Se perco a memória? Se finjo que acredito? Se me faço de forte? Se piso em ovos, em brasas ardentes? Se perco o juízo? Se tenho cicatrizes? Se tenho pudores? Se perco o pudor? Se fico corada? Se perco os sentidos e tateio no escuro? Se sinto medo do escuro? Se cometo desatinos? Se ouço vozes? Se tenho premonições? Se acredito em bruxas e sou uma delas? Se dou cambalhotas? Se perco o fôlego? Se ando em labirintos? Se bato com a cabeça na parede? Se choro às escondidas? Se caio fora sem olhar para trás? Se acredito em horóscopos? Se faço promessas? Se acredito em milagres? Se sou fiel? Se fico em silêncio? Se guardo lembranças e também sei me esquecer delas? Se digo bobagens e depois me arrependo? Se peço desculpas? Se digo obrigada?

FRENTE AOS ENIGMAS

À Mulher Selvagem que habita em cada uma de nós


Sou uma ficção. Uma invenção de mim mesma. Uma fantasia. Uma alegoria. Crio e me re-crio a cada instante. Como na ciranda dos átomos. Meu corpo não me traduz. Minha alma não se revela na palma de minha mão. Meu destino desmente todos os horóscopos que tão cuidadosamente consulto. Não há oráculos e deuses que me ousem decifrar! Essa tarefa é minha e dela não posso abdicar. É um reino cujo governo está sob minhas mãos! E não é nada fácil conquistar seus hemisférios. Às vezes - inúmeras vezes! - me sinto neles perdida. Invoco as fadas-madrinhas com suas varinhas de condão. Dirijo-me às esfinges. Quero respostas! Só me fornecem enigmas!. Nada de avisos ou sinais. Queixo-me ao luar. As ressonâncias de meus ecos se perdem na densa floresta! Só então descubro que essa parte da tarefa é minha. Me ponho a recolher cuidadosamente as pedrinhas e os ossinhos com que assinalei os caminhos obscuros, sombrios e tão mal conhecidos. E com eles danço ao redor do fogo e entoo cantos profundos ao anoitecer. Sob os beirais das madrugadas úmidas, descanso. Aguardo o dia tirar seu véu e me oferecer o mar em chamas.


Continuo acreditando no amor, na força do bem, no ciclo das estações, nos ritmos da lua, na pulsação das marés, no movimento das estrelas. Preciso tão-somente de água, ar, lua, luz, sonho, pão, abrigo, calor, trabalho e fantasia - elementos simples de uma ordem imutável e intangível a que todos pertencemos – para respirar, me sentir viva e continuar mar afora. Respeitando sempre a alternância da força das correntes e o fluxo das águas.

quinta-feira, junho 25, 2009

PARA QUE ESCREVER?


Há quem diga que escreve para afastar os próprios fantasmas. Eu escrevo para entrar em contato com os meus e com suas zonas de sombra: tristezas, dúvidas, perplexidades, medos, inseguranças, ansiedades, desatinos. E também para vibrar na luz: celebrar alegrias, gozos, conquistas, êxtases, paz de espírito, descobertas, reencontros. E, sobretudo, para me conhecer melhor, me apropriar dos meus pensamentos, idéias, emoções, sonhos, sensações, subjetividades.

Escrevo para desbravar minha geografia, meu mundo interior - esse vasto território tão desconhecido e tão difícil de ser dom(in)ado!

Escrevo não só para me conhecer, mas também para me re-conhecer. Me re-visitando, me percebo melhor. Minha auto-estima nem sempre está ligada a minha auto-imagem, embora o espelho - sempre fiel - me aponte as rugas, os fios de cabelo que insistem em (re)nascer cada vez mais brancos e uma flacidez que me comove e me desespera ao mesmo tempo. Acolho-os em meu regaço de mulher parida e pronta para oferecer conforto. Não há espaço para (des)ilusões: o tempo marca suas passagens pelo meu corpo e me informa que ele se encontra vivo, pulsante e vibrante! Portanto, nada a lamentar!

Escrevo para me entender e me revigorar. Para aprender um pouco mais sobre mim mesma e como posso, a partir desse aprendizado - sempre feito de erros e acertos - errar menos e acertar mais. Uma tarefa para Hércules nenhum botar defeitos!

Nem sempre é fácil ser porta-voz das próprias idéias. Ser de segunda mão é nosso destino. Somos sempre uma cópia: de nossos pais, de nossa família, de nossa cultura, costumes, tradições, geografia e temporalidade. Somos cópias dos amigos que cultivamos, dos amores em que nos enredamos, dos filhos que criamos, de todos os livros que lemos e palavras que ouvimos e que continuam – de forma tão solene e inesperada - ecoando dentro de nós. Tentar escapar disso é tão irreal como achar que viveremos eternamente. Mas já que ninguém pode pensar e experimentar a vida por mim, embarco nessa aventura do corpo/linguagem. Nasci “sapiens”, “ludicus” e com o privilégio de ser mulher! Então me disponho a brincar de contar estórias e des-cobrir minhas ideias.