segunda-feira, julho 16, 2012

INDISCRETUDE



Tento colocar um pouco de ordem e lógica

na rotina de meu dia a dia.

Quero me sentir segura.

Mas a vida que invisível pulsa por entre as horas que silenciosas escorrem

vai reconfigurando novos desenhos no tapete do meu dia

E, de repente, sem prévio aviso

Eis que me vejo assim

Experimentando este sentimento de absoluto desamparo

Num chão interno que treme

E me desata esta vontade enorme de fugir

Sem saber pra onde

E nem ao menos de quê.



terça-feira, julho 10, 2012

FOTOPOETANDO: PORQUE A POESIA SOPRA ONDE QUER

(catador de papéis em Curitiba - foto Rosane Preciosa)


Isto também é poesia
urdida na trama de um olhar sensível
captando uma dura realidade...


domingo, junho 17, 2012

HOJE VOU DE LINDA...




Um escritor célebre em Paris entrou na loja de Mathilde certo dia.

Não estava procurando um chapéu.

Perguntou se ela vendia flores luminosas de que ele ouvira falar,

flores que brilhavam no escuro.

Disse que as queria para uma mulher que brilhava no escuro. Ele podia jurar que, quando a levava ao teatro e ela se sentava nos camarotes escuros com o vestido de noite, sua pele era luminosa como a mais primorosa concha marinha, com uma suave luminescência rosada.

E ele queria as flores para que ela usasse no cabelo.

(Anais Nin, Mathilde in Delta de Vênus)



MENS SANA IN SOCIEDADE INSANA



sábado, junho 16, 2012

PORQUE FOSTE O QUE TINHAS DE SER...

Porque foste o que tinhas de ser:


a paixão

o grito

o choro

o torpor

o tremor

a leveza

a tontura

o rodopio

a raiva

o ranger de dentes

o riso aberto

a gargalhada sonora

a loucura nua, ardente, pungente

o perdão

a náusea

o vômito

a insônia

o vazio

o pleno

o tudo

o nada

o desmaio

a dança

a contradança

as inumeráveis alianças

o brilho da minha voz

o tato

a pele

o cheiro

a língua

as mãos

o deserto

o desertor

a cratera

a ferida aberta

a febre

a cura

a cicatriz

o encaixe

o cobertor

minha canoa

meu rio

minha sardinha na brasa

meu sol

meu céu

meu lúmen

minha seiva

o sêmen

a saliva

o suor

a gosma

meu alimento

a cumeeira dos meus sonhos

o chão ardente de minhas loucas fantasias

o portal dos meus febris desejos

o sexo

o prazer

a dor

a vergonha e sua falta

a inocência

o sem senso

as muitas noites e dias de amor

as muitas horas sombrias de solidão

o milagre

o mistério

e agora este silêncio

tatuado com esta saudade e uma tristeza que não sai de mim...Não sai...





quarta-feira, junho 06, 2012

CIRCO LÚDICO EXPERIMENTAL

VIVER É ISTO?

ESTE ÚNICO ESPETÁCULO?

ESTA ÚNICA ESTRÉIA?

ESTA ÚNICA ACROBACIA?

ESTE SALTO NO ESCURO?

ESTE ABISMO ESCANCARADO?

ESTA BARRA, ESTE TRIZ?

ESTA SOLITÁRIA CORDA BAMBA?

UM ÚNICO TRAPÉZIO?

UMA ÚNICA CHANCE?

UM ÚNICO FIO?

UMA ÚNICA VERTIGEM?

UM ÚNICO E ÚLTIMO ATO DE LOUCURA?

ESTE SOLUÇO?

ESTE SUOR MISTURADO NUMA BRINCADEIRA ÚNICA?

UM ÚNICO GOZO?

UM ÚNICO GESTO?

UM ÚNICO SUSTO?

ESTA ÚNICA LABAREDA ACENDENDO UM CLARÃO NA NOITE ESCURA?

ESTE ÚNICO FOGO REDUZINDO-SE A BRASAS INCANDESCENTES E ESFRIANTES?

ESTA ÚNICA E ÚLTIMA SONORA GARGALHADA?

UM ÚNICO LADO?

UMA ÚNICA VERSÃO DOS FATOS?

E ESTA MOEDA COM UMA ÚNICA CARA?


E DEPOIS?...

MAIS NADA?...

SÓ SOMBRAS E SILÊNCIOS?...

SÓ DOR E MEMÓRIA?...

SÓ PÓ E HISTÓRIA?!!!...


ME RECUSO A ACREDITAR!

POBRE VIDA HUMANAMENTE INVENTADA!

ESTREITA DEMAIS...

FRÁGIL DEMAIS...

INSEGURA DEMAIS...


EU QUERO É MAIS!


PARA ALÉM DO SUSTO

ME REINVENTO

TEÇO TRAMAS, ENREDOS...

CONTO ESTÓRIAS PARA MIM MESMA

ME ACALENTO

E COM OS FIOS DA TRAMA QUE VOU TECENDO

VOU ELABORANDO UM SEGUNDO, TERCEIRO, QUARTO, QUINTO TRAPÉZIOS...

QUANTOS VIEREM...

QUANTOS SE FIZEREM NECESSÁRIOS...

E ABRINDO AS MÃOS NOS ESPAÇOS

VOU REFAZENDO NOVOS PERCURSOS

REDESENHANDO NOVOS ESPELHOS DE MUNDOS

COM NOVOS CAMARINS

NOVOS BASTIDORES

NOVOS PALCOS

NOVOS HOLOFOTES

NOVOS FIOS

NOVOS OUTRAMENTOS E DENTRO DELES

EU

VOCÊ

NÓS

NOSSOS AFETOS

EM NOVOS E INSUSPEITADOS CAOS

REGIDOS PELO GRITO DO INSTANTE:


- SENHORAS E SENHORES, ADMIRÁVEL PÚBLICO PAGÃO!

EIS-NOS AQUI DE NOVO

EM NOVAS E EMOCIONANTES PIRUETAS

E ARRISCADAS ACROBACIAS!

BENVIDOS À MAGIA DA VIDA!





domingo, junho 03, 2012

A LOUCA DA CASA



Parodiando Clarice (a Lispector!), busco ser legível quase no escuro(para-mim-mesma-em-primeiro-lugar-evidentemente-e-de-preferência!)


Procuro uma compreensão que seja só minha. Somente minha e de mais ninguém. Às vezes penso que nem você, nem ninguém precisa me entender. Não estou obrigada a fazer parte da espécie humana inteligível, decifrável, comunicável. Quem quiser que perca tempo, mas seres humanos serão sempre assim: INDECIFRÁVEIS AINDA QUE PALATÁVEIS!

(abroparênteses):

É... COM O PERDÃO DA PALAVRA,

FODER É BOM, VAMOS SER REALISTAS!

E - AGORA JÁ SEM O PERDÃO DA PALAVRA! -

TALVEZ A MELHOR PARTE DA VIVÊNCIA NESTE NOSSO ESTRANHO LATIFÚNDIO SEJA EXATAMENTE ESTA:

COMER, BEBER E FAZER AMOR, SEM O MENOR PUDOR!

(fech0parênteses e pontuo sem discussão!).


Bom... mas voltando ao assunto principal sem querer me enveredar por outros caminhos... Continuo perdida em labirintos procurando os fios de ariadne nesta minha estória de vida, pois preciso voltar a respirar... Continuo me sentindo este ser disparatado e incompreensível! Uma (quase)estrangeira dentro de mim mesma. Estranhos e insuspeitos sentimentos e arrepios invadem territórios de meu corpo e minha alma. Procuro ser gentil com eles - juro! - ainda que aos berros e com uma delicadeza que só eu consigo ter para comigo mesma, GRITO:


HELLO, STRANGERS!

WELCOME HOME!

ENTREM, POR FAVOR!

SENTEM-SE

E SINTAM-SE BEM À VONTADE!

ESPALHEM-SE...

A CASA É SUA!

SE INSTALEM CONFORTAVELMENTE, AMORES...

MAS,

SEM MAIORES ESTRAGOS,

PLEASE...


Mas...

a grande verdade é que...

eles...

estes estranhos e náufragos sentimentos que me habitam

nunca andam ou vêm sozinhos...


Fazem parte de uma gangue

e chegam em bando

fazendo barulho

tirando-me a paz e o sono

e provocando estragos outros

a começar por esta súbita falta de ar

este vazio no estômago

este buraco no peito

esta náusea diante daquilo que não consigo decifrar

e as muitas lágrimas que ainda insistem em brotar...




quarta-feira, maio 30, 2012

DOR II


Uivo para o que me é pesado e me assombra!

A dor que dilacera minhas entranhas-sentimentos não se nomeia

e declara morte às palavras!

Por isso mesmo, o som que sai de minha garganta-entranhas por vezes também explode como um rugido!




ORAÇÃO



Caminho pelas estranhezas da vida com os olhos arregalados, a boca seca e no peito a incômoda sensação de um buraco que se recusa a fechar seguido de uma falta de ar. Viver realmente é um ato experimental. Com certeza, a vida pode se encerrar sem maiores argumentos. Ponto. E não tem discussão!


Ante meu lamento e tosca incompreensão do que possa significar o insondável mistério da morte, a amiga me avisa: - Na vida, querida, só se movendo pela fé!


E eu que circulo por outros caminhos e entranhas..

Eu que sem querer acabo sempre optando pelas vias e vielas escorregadias da vida, entro em desassossego... Diante do imponderável e do mutante que deliberadamente medem minhas forças e emoções, fico procurando uma forma segura de reiventar essa caminhada inóspita que todos fazemos - particularmente eu agora! - por esse planetário chão tão amado-e-dilacerado ao mesmo tempo.

Meu problema é que não quero bíblias, não quero evangelhos, não quero alcorões, não quero religiões humanamente codificadas, catequisadas, com respostas bem explanadas...

Desculpem-me, Não!

Mas... Não nego: Preciso de um farol!

Sim, admito, estou perdida! E a noite está escura! E densa!


Mas, tenho procurado rezar.


E em minhas orações peço ao Grande Deus para que seja bondoso comigo e materialize em mim o faro, a audição, a visão, o tato e a percepção para compreender e ao mesmo tempo aceitar o quanto as coisas podem ser ora doces ou amargas, ora ásperas ou suaves, ora belas e alegres ou feias e tristes... apesar de todos os grossos agasalhos, dos felpudos cobertores, das confortáveis almofadas, dos casacos de pelúcia, dos travesseiros de pena, das luvas de pelica, dos óculos de lentes coloridas, dos chapéus de largas abas com que procuramos nos proteger...


Recito a Ele minha humanidade:

- Ó meu Deus, carente estou e vulnerável sou! Libera em mim afetos para que eu possa abraçar todos os fatos e circunstâncias com amor. Acolha minhas necessidades. Agasalhe minhas lembranças e me mostre no mapa deste estranho território em que ora piso um lugar onde eu possa depositar em paz minhas saudades e me fazer seguir adiante pela estrada da vida contemplando com serenidade os novos e imponderáveis espaços por onde o Ser objeto do meu afeto agora circula. Amém!




terça-feira, maio 22, 2012

LUA NOVA DE MAIO



Entro na lua nova de maio querendo dar conta de mim.


Preciso voltar à vida...


Por um tempo parei de contar luas e bênçãos.

Por um tempo me cobri de cinzas, me vesti de ausências,

Adormeci, enlouqueci, me esqueci, enlutei.

Mas... não morri, é verdade...

Apenas descobri o quanto me entristeci com as voltas que a vida dá

sem pedir licença

ou oferecer agasalho.


Preciso voltar à vida...


Estou que nem semente se abrindo para o clarão

só que lentamente despontando

lentamente ganhando força

Lentamente revolvendo a terra sobre mim

E muito mais vagarosamente ainda abrindo os olhos

e tentando recomeçar a enxergar o mundo à volta.


Estou de pele nova nesta lua nova.

E por isso mesmo ainda sentindo frio

muitos arrepios

e uma irreparável saudade.



quarta-feira, maio 02, 2012

DOR



I
A pedra que eu pensava mágica
Não é mágica
Tudo que eu queria mágico e sólido e poderoso
Desmanchou-se no ar
Perdeu-se nas brumas
Evaporou-se...
Estou confusa... perdida...
Sem norte, sem leste, sem sul, sem oeste
Meus sonhos caíram num buraco fundo
Virarão sementes?
Germinarão?
Criarão corpos?
Florirão?
Darão frutos?
Terão alma?
Nutrirão?
Apodrecerão?
Virarão pó?
Se transformarão? Em quê?
Necessitarão de águas, luas, sóis, primaveras?
II
Olho para você, meu amor,
e meus sentimentos desalinhados insistem na pergunta:
- Mas esta pedra não é mágica?

E você, com a ternura de sempre, me responde:
- Não, meu amor... Mágico é seu coração!


sábado, janeiro 07, 2012

ORAÇÃO DA MANHÃ DE CADA DIA



Livrai-me, Senhor, de tudo que me trave o riso e o abraço

e que me impeça de dançar, cantar e celebrar este dia com prazer.


Permita que eu só espalhe alegria e bom humor por aí

e que generosamente saiba dividir risadas com todos aqueles com quem me encontrar!


Amém.

Obrigada.





segunda-feira, janeiro 02, 2012

FELIZ ANO NOVO!



A rolha da garrafa de champanhe pipoca no ar junto com os fogos de artifício que explodem coloridos no céu! Na roda milenar dos dias, um novo começo, independente da minha boa ou má vontade, alheio ao meus mais secretos desejos, indiferente aos meus sentimentos, convites ou rejeições. E já que nada posso fazer, só me resta mesmo me submeter e decretar minha rendição a este compasso inevitável das horas e nele dançar, me movimentar, me alegrar, amar, sonhar, brindar, abraçar, celebrar, sorrir e agradecer aos céus por estar viva e entre pessoas queridas! Uma lembrança me vem à cabeça e com ela uma quase-lágrima teimosa. Digo para mim mesma: - Opaaaaa! Façamos um acordo, meu beeem! Nada de tristezas! Não agora! Pelo menos, por ora! E em meio aos inúmeros beijos e abraços que dou e recebo e junto com uma enorme multidão, corro pra beira do mar ao encontro de Iemanjá e suas muitas águas! Rodopio no ar, abraço o vento e me curvo, fazendo reverências aos céus, à terra, às águas, às pedras e a todas as inúmeras forças do bem vivas e pulsantes, latentes e vibrantes de energia e que me cercam, me velam, me nutrem, me contagiam e me afetam. Agradecida, pulo as 7 ondas que vêm ao meu encontro e jogo as 7 flores com suas 7 cores pra Iemanjá, a Rainha do Mar, espalhando com elas meus 7 pedidos pelo ar! Oxalá sigam eles seus caminhos rumo a suas materializações, sob as proteções de todos os Orixás!


UM FELIZ NOVO RECOMEÇO PRA TODOS NÓS!!!