terça-feira, agosto 25, 2009
SILÊNCIO
O que eu acho?
O que eu penso?
Como vejo as coisa?
Será que isso importa?
Será que você quer mesmo minha opinião?
Será que ela vai lhe agradar?
Será que isso vai mudar alguma coisa?
Será que vai de alguma forma lhe ajudar?
E se eu lhe desapontar?
Será que vai me olhar com o mesmo afeto?
Há horas, meu bem, que a melhor a coisa a fazer
É ficar mesmo num doce silêncio
Numa linguagem muda!
Assim ninguém se machuca!
Você não concorda?
sábado, agosto 22, 2009
BLINDANDO A DESPOESIA
Pintei de sonhos o luar
E parti ao encontro
De seu vento forte na maré cheia
Impregnado de maresias
E dos sons e perfumes da noite.
Sabia dos ritmos da lua
Da pulsação das marés
Do movimento das estrelas
E de quantas ilusões e perigos se podia tecer
Um sonho aberto ao tempo
No meio da noite.
Decidi mesmo assim
Abrir mão dos fantasmas
Que insistiam em me rondar
Corroendo-me a fantasia
Contaminando-me os olhos e a poesia.
Mal começou o dia
Descobri o quanto de sal me custaria
Jogar continuamente flores no mar
E implorar bênçãos e mágicas
Para a doce Iemanjá: Um oceano inteiro...
E toda uma vida!
Minha passagem para o ano novo
Aconteceu ali à luz do dia
Em pleno mês de agosto.
Movida apenas pela leveza
De um pequeno barco a vela
E com o inevitável mar convulso
Batizando meus olhos.
quinta-feira, agosto 20, 2009
VERBO FORTE
O verbo era forte e seu tempo ainda se conjugava no presente. Jogo pesado. Tinha que ter cacife para bancar. Muito know-how. Muita estrutura emocional para surfar nas ondas altas e se segurar nas vazantes das marés sem se deixar arrasar ou se arrastar. Engolir as derrotas, equilibrar-se nas instabilidades e flutuações. Driblar as correntes traiçoeiras, os arrecifes insuspeitos. Acautelar-se diante diante de icebergs revelando apenas uma pequena ponta de seus cumes gelados. A navegação seria sempre sem cartas náuticas e, ora sob um céu de luas crescentes e cheias, ora minguantes e vazias. Nas noites de frio e chuva, teria que apelar para o agasalho e proteção de uma boa bebida quente. Uma água ardente! Aquele, pensou, era um esporte como outro qualquer. Só que com variações arriscadas. Exigia habilidades extras, capacidade, talento, desinibição. E mais, como numa boa mesa de pôquer, sem parcerias, sem solidariedades. Cada um por si e Deus por todos. Tinha que ser uma excelente atriz e ter muito sangue frio, não demonstrar emoção ou medo ante as cartas confusas, mal embaralhadas, desalinhadas. Muito menos revolta ou desprazer. Pensou na adrenalina, na convulsão. Nas pernas fortes que teria que ter para se levantar rápido - e sozinha e sem nenhum cavalheiro para estender-lhe a mão e o chapéu! - nas horas das quedas bruscas, inesperadas, violentas. E se recompor mais rápido ainda, equilibrando-se com elegância no salto alto, olhando para a câmera a lhe dizer: - Sorria, meu bem, você está sendo filmada! Pensou nas regras tão novas e desconhecidas, seu domínio e suas possíveis armadilhas. No difícil repique. Sentiu-se descaradamente descrente. Impotente para cortar o vento com as mãos, fazê-lo parar ou mudar-lhe a direção. Lembrou-se de que tinha sangue quente e sentimentos complexos. Gostava do sonho, do encanto, do romance, da fantasia. Calculou os riscos com régua fina e milimetricamente precisa e desistiu ante a lâmina afiada demais, sob o constante fio da navalha! Apagou a luz, colocou a cabeça no travesseiro e murmurou baixinho: - Não sou morcego! Em seguida, num sobressalto, sentou-se no meio-da-noite-no-meio-do-escuro-no-meio-da-cama e gritou em alto e bom som para quem quisesse ouvir:
- NÃO-SOU-MORCEEEEGOOOOOOOO!!!!!!!!
E foi dormir. Porque era o melhor que tinha a fazer naquele momento!
MAÇÃS
terça-feira, agosto 18, 2009
REGALO
Eu sei que você faz de mim
Um porto seguro
Mas não sou tão segura assim, baby!
Também tenho meus medos
Minhas inseguranças
Meus desvarios!
Sonho como qualquer pessoa
E acordo também com pesadelos.
Também quero fugir
De vez em quando
Para outro lugar
Onde eu possa me sentir
maravilhosamente assim:
Irresponsável!
E ficar quietinha
Em silêncio,
Querendo de nada saber
Porque está muito complicado esse viver!
Estou tão sem bússolas quanto você.
Mas faço desse jeito: vou experimentando
De cada dia os sentidos desse viver.
Não rejeito o doce nem o amargo
Nem o tempero do sal com a pimenta.
Mas não confunda
Sou seletiva:
Sei exatamente onde mora o meu prazer!
Delicias? Boas notícias?
Existem!
E quando acontecem...
Aproveito!
segunda-feira, agosto 17, 2009
O QUE EU POSSO LHE DIZER, AMOR?
O que eu posso lhe dizer, Amor?
Que nada se acaba da noite para o dia?
Que os abismos e escuros vão se tecendo lentamente nas pequenas incongruências?
Que é mais fácil e rápido destruir do que construir?
Que são as pequenas e contínuas ondas que abalam o casco de um veleiro?
Que nas grandes tempestades é que se prova a força de uma embarcação?
Que nos detalhes que ignoramos é que ganhamos ou perdemos?
Que no geral sequer notamos as diferenças?
Que vistas de longe todas as montanhas são iguais?
Que são muitas as formas de amar?
Que a vida é um teste de múltiplas e amplas escolhas,
mas não podemos ser levianos e inconsequentes?
Que não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo?
Que amar é investir afetivamente no outro
E exige uma taxa de retorno desse afeto na mesma proporção?
Que a paixão não comporta indecisões?
Que o amor requer exclusividade?
Que não se pode brincar com sentimentos sem se ferir ou ferir o outro?
Que nunca sabemos como será o dia de amanhã?
Que se pode afivelar as malas a qualquer hora,
Comprar o bilhete e partir?
Que ter que dizer adeus é sempre triste, mas que pode também significar um alívio?
Que há um tipo de leveza do ser que é insustentável?
Que uma das coisas mais importantes da vida é se perguntar: - Até onde eu posso ir? Até onde eu agüento? E colocar limites para si mesmo?
Que o amor não comporta irresponsabilidades para com aqueles que são objeto de nosso afeto?
Que sentir medo é inerente ao sentimento de estar vivo?
Que o amor tem suas zonas de luz e sombras?
Que tudo na vida passa por fases, mudanças, inumeráveis ritos e alterações em seus ritmos?
Que sob o guardachuva do amor tudo pode acontecer?
Que é nas quedas que a água ganha força?
Que sempre haverá pedras no meio do caminho?
Que a vida é uma balança que exige equilíbrio?
Que o amor não tem que rimar com dor e exige eco?
Que a beleza verdadeira é feita de imperfeições?
Que qualquer tipo de preconceito é sempre odioso?
Que ninguém gosta de se sentir à beira de precipícios?
Que esse mundo é muito mais vasto do que pode supor nosso minúsculo coração?
Que se perceber diante de encruzilhadas na estrada da vida é quase que inevitável, mas fazer opções pelo caminho a seguir, também?
Que não existem âncoras para o viver e amar mas que um mínimo seguro é necessário para nossa sanidade?
Que não podemos viver brincando de gangorras?
Que teto, comida, vestuário, trabalho, calor, prazer e amor são ingredientes obrigatórios na cesta básica de qualquer ser humano?
Que para amar não se exige carteira de habilitação,mas que chega uma hora em que temos que saber como usar o volante e os pedais do freio desse carro chamado AMOR?
Que esse mesmo carro desgovernado e sem direção pode ferir muita gente?
Que nossa beleza e poder de sedução são armas que podems ser usadas para vivermos em paz, com amor e alegria?
Que o amor exige entrega e formação de vínculos?
Que não podemos ficar submetidos às forças de um mercado amoroso instável, inseguro e de corações e cotações oscilantes e vazios?
Que chega um momento em que é preciso abandonar o “talvez” e aprender a dizer “sim” ou “não”?
Que o cardápio é variado e está sempre à disposição, mas que usar as pessoas unicamente como fonte de alimento e prazer é puro egoísmo?
O que eu posso lhe dizer, Amor?
Não sei. Também me movo por perguntas!
Os caminhos são muitos
e os roteiros quem traça é você!
Siga o tempero do seu coração
e acrescente as também necessárias pitadas de razão.
A única coisa que descobri até agora
é que na vida nunca nada é de graça,
tudo pode ser escolhido
mas temos um preço a pagar.
A decisão é sua e sempre será!
Quaisquer que sejam suas escolhas
Viva, e deixe viver!
Dê prazer a quem você ama
Mas exija este mesmo prazer para você!
Continuo aqui para quando precisar!
Beijos.
domingo, agosto 16, 2009
ECLIPSE
Estou naquela fase do me des-cobrir de novo
E não me pergunte o porquê.
Qualquer resposta que eu lhe dê
Será inútil e sem consolo.
Não gosto de me sentir assim:
perdida, começando do escuro!
Mas, vez por outra,
Isso me acontece.
E nessas horas só me resta mesmo,
Respeitar esses meus ciclos de lua instável,
desprovida momentaneamente de luz,
movida a precariedades,
Girando meio que às cegas,
Num firmamento do tudo possível
Sem rotas e garantias
E ainda assim
E apesar disso
Me permitindo ir
Vulnerável
Sensível a todos os apelos
E pedidos de socorro e urgências que ecoam
Dentro e fora de mim.
Contraditoriamente
Me sinto bem dentro dessa fragilidade
Que me põe de alma nua e tão humana
Fazendo-me sentir aberta a um novo começo
Ausente de respostas
Inundada de perguntas
E, como sempre,
Querendo entender
Do jogo das charadas
Suas possíveis ciladas
Ante a matéria imprecisa dessa guia do viver.
quinta-feira, agosto 13, 2009
¿QUÉ LES QUEDA A LOS JÓVENES?
¿Qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de paciencia y asco?
¿sólo grafitti? ¿rock? ¿escepticismo?
también les queda no decir amén
no dejar que les maten el amor
recuperar el habla y la utopía
ser jóvenes sin prisa y con memoria
situarse en una historia que es la suya
no convertirse en viejos prematuros
¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de rutina y ruina?
¿cocaína? ¿cerveza? ¿barras bravas?
les queda respirar / abrir los ojos
descubrir las raíces del horror
inventar paz así sea a ponchazos
entenderse con la naturaleza
y con la lluvia y los relámpagos
y con el sentimiento y con la muerte
esa loca de atar y desatar
¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de consumo y humo?
¿vértigo? ¿asaltos? ¿discotecas?
también les queda discutir con dios
tanto si existe como si no existe
tender manos que ayudan / abrir puertas
entre el corazón propio y el ajeno /
sobre todo les queda hacer futuro
a pesar de los ruines de pasado
y los sabios granujas del presente.
(Mario Benedetti)
segunda-feira, agosto 10, 2009
PERMITINDO MUDANÇAS...
sábado, agosto 08, 2009
SEM ALFA NEM BETA
quarta-feira, agosto 05, 2009
DEIXANDO FLUIR
Hoje estou como os rios:
- Desobedecendo quaisquer fronteiras
- Invadindo cada um dos precários territórios
- Desconhecendo seus toscos limites
- Abolindo todos os odiosos preconceitos
- Renegando os míseros e falsos juízos
- Mandando às favas as repulsivas hipocrisias
- Quebrando todas as regras vazias de sentido e providas de uma lógica cega e demente fora dos repertóris da Vida e que, em vão, tentam nos impingir.
Acendo a luz nos becos
E ponho um fim em seus cantos escuros
Liberta de quaisquer obscuras censuras.
Sem leis, sem governos e sem algemas
Que possam me deter.
Hoje estou por conta
Daquilo que manda meu coração!
terça-feira, agosto 04, 2009
TRAMA
SENTIMENTOS LÍQUIDOS
Hoje estou me sentindo meio assim
Fluida e perdida
diante das charadas da vida.
E sem relógios de sol para apontar-me uma direção.
Sei que por mais que esta noite termine
e o dia comece naturalmente a acontecer,
continuarei me sentindo,
Por algum tempo, ainda assim:
Iluminada de escuro
presa em orvalhos
murmurando soluços.
Sou mesmo lenta!
Só peço que respeite
este meu frágil ritmo de flor
Que nem sempre consegue se guiar
Pela freqüência das horas
ou pelo ciclo das estações.
Comigo às vezes as coisas fluem
meio que ao inverso dos calendários
e, de repente,
sem nenhuma explicação,
Pode florescer um súbito inverno
No pleno transcorrer de um primeiro verão.
domingo, agosto 02, 2009
ROUBO
NUNCA É UMA MEDIDA DE TEMPO QUE NÃO EXISTE
Um dia destes
Quando menos esperar
Ainda te encontro
Por estes caminhos tortos do mundo
De ladeiras íngremes
Esquinas incertas
Ruas estreitas
E inúmeras vertentes
E te convido para sentarmos
Numa boa mesa de bar.
E beberemos de um bom vinho
Esquecidos do relógio,
Dos maus tempos e com um bom coração
E tu me falarás de tuas crises
E eu das minhas.
De tudo o que foi
Não foi
Deixou de ser
Não fizemos acontecer
Enlouqueceu
Esmoreceu
Se perdeu
Desapareceu
E caiu no abismo de nós dois.
E por entre risos embriagados de luz e paz
Faremos muitos brindes à vida
E logo em seguida
Já sem muito siso
Tu me dirás: - Te amei tanto!
E eu te responderei: - Eu também!
E aí me perguntarás:
- Por que então não deu certo? Éramos tão parecidos, tínhamos tanta coisa em comum!
E eu te responderei
Já inebriada pela doçura do vinho
Com aquela antiga e sonora gargalhada de sempre:
- Não sei! São os desvios da Vida!
E indagarás dos meus mais recentes amores,
Se casei, me apaixonei, tive filhos, quebrei alianças, formei novos vínculos
E eu te farei iguais perguntas
Riremos das grandes tolices
Das pequenas imperfeições
Das velhas manias...
De como adorávamos perambular livres pelos parques e jardins
Olhar vitrines,
Visitar museus, galerias
Tomar sorvetes
Ir ao cinema
Ouvir música
Dançar...
E quando o holofote do tempo
Sinalizar o findar do encontro
Pagaremos a conta
Achando que afinal
Conseguimos fazer aquele nosso velho acerto de contas.
Depois disso
O beijo na face
O grande abraço
A despedida
E aquela estranha sensação no olhar
De que entre o dito e o não dito
Ainda ficou muito por compreender
sobre essas duas pessoas
Que um dia jovens demais
Não conseguiram saber
Como tentar conjugar
Todos estes bons e maus tempos do verbo amar.
sábado, agosto 01, 2009
MÁSCARA
Da vida,
Lamento dizer,
Até agora ainda
Pouco ou quase nada aprendi.
Estou tão crua como quando nasci.
Sou uma excelente desaprendiz.
Mas sei fingir direitinho!