Um dia destes
Quando menos esperar
Ainda te encontro
Por estes caminhos tortos do mundo
De ladeiras íngremes
Esquinas incertas
Ruas estreitas
E inúmeras vertentes
E te convido para sentarmos
Numa boa mesa de bar.
E beberemos de um bom vinho
Esquecidos do relógio,
Dos maus tempos e com um bom coração
E tu me falarás de tuas crises
E eu das minhas.
De tudo o que foi
Não foi
Deixou de ser
Não fizemos acontecer
Enlouqueceu
Esmoreceu
Se perdeu
Desapareceu
E caiu no abismo de nós dois.
E por entre risos embriagados de luz e paz
Faremos muitos brindes à vida
E logo em seguida
Já sem muito siso
Tu me dirás: - Te amei tanto!
E eu te responderei: - Eu também!
E aí me perguntarás:
- Por que então não deu certo? Éramos tão parecidos, tínhamos tanta coisa em comum!
E eu te responderei
Já inebriada pela doçura do vinho
Com aquela antiga e sonora gargalhada de sempre:
- Não sei! São os desvios da Vida!
E indagarás dos meus mais recentes amores,
Se casei, me apaixonei, tive filhos, quebrei alianças, formei novos vínculos
E eu te farei iguais perguntas
Riremos das grandes tolices
Das pequenas imperfeições
Das velhas manias...
De como adorávamos perambular livres pelos parques e jardins
Olhar vitrines,
Visitar museus, galerias
Tomar sorvetes
Ir ao cinema
Ouvir música
Dançar...
E quando o holofote do tempo
Sinalizar o findar do encontro
Pagaremos a conta
Achando que afinal
Conseguimos fazer aquele nosso velho acerto de contas.
Depois disso
O beijo na face
O grande abraço
A despedida
E aquela estranha sensação no olhar
De que entre o dito e o não dito
Ainda ficou muito por compreender
sobre essas duas pessoas
Que um dia jovens demais
Não conseguiram saber
Como tentar conjugar
Todos estes bons e maus tempos do verbo amar.
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