Uivo para o que me é pesado e me assombra!
A dor que dilacera minhas entranhas-sentimentos não se nomeia
e declara morte às palavras!
Por isso mesmo, o som que sai de minha garganta-entranhas por vezes também explode como um rugido!
Somos como árvores. Continuamos precisando de ar e água, luz e calor, em qualquer idade ou estação. O passar dos anos só nos dá grandiosidade de raízes e ramos. Com os cuidados adequados, continuamos florescendo!
Caminho pelas estranhezas da vida com os olhos arregalados, a boca seca e no peito a incômoda sensação de um buraco que se recusa a fechar seguido de uma falta de ar. Viver realmente é um ato experimental. Com certeza, a vida pode se encerrar sem maiores argumentos. Ponto. E não tem discussão!
Ante meu lamento e tosca incompreensão do que possa significar o insondável mistério da morte, a amiga me avisa: - Na vida, querida, só se movendo pela fé!
E eu que circulo por outros caminhos e entranhas..
Eu que sem querer acabo sempre optando pelas vias e vielas escorregadias da vida, entro em desassossego... Diante do imponderável e do mutante que deliberadamente medem minhas forças e emoções, fico procurando uma forma segura de reiventar essa caminhada inóspita que todos fazemos - particularmente eu agora! - por esse planetário chão tão amado-e-dilacerado ao mesmo tempo.
Meu problema é que não quero bíblias, não quero evangelhos, não quero alcorões, não quero religiões humanamente codificadas, catequisadas, com respostas bem explanadas...
Desculpem-me, Não!
Mas... Não nego: Preciso de um farol!
Sim, admito, estou perdida! E a noite está escura! E densa!
Mas, tenho procurado rezar.
E em minhas orações peço ao Grande Deus para que seja bondoso comigo e materialize em mim o faro, a audição, a visão, o tato e a percepção para compreender e ao mesmo tempo aceitar o quanto as coisas podem ser ora doces ou amargas, ora ásperas ou suaves, ora belas e alegres ou feias e tristes... apesar de todos os grossos agasalhos, dos felpudos cobertores, das confortáveis almofadas, dos casacos de pelúcia, dos travesseiros de pena, das luvas de pelica, dos óculos de lentes coloridas, dos chapéus de largas abas com que procuramos nos proteger...
Recito a Ele minha humanidade:
- Ó meu Deus, carente estou e vulnerável sou! Libera em mim afetos para que eu possa abraçar todos os fatos e circunstâncias com amor. Acolha minhas necessidades. Agasalhe minhas lembranças e me mostre no mapa deste estranho território em que ora piso um lugar onde eu possa depositar em paz minhas saudades e me fazer seguir adiante pela estrada da vida contemplando com serenidade os novos e imponderáveis espaços por onde o Ser objeto do meu afeto agora circula. Amém!
Entro na lua nova de maio querendo dar conta de mim.
Preciso voltar à vida...
Por um tempo parei de contar luas e bênçãos.
Por um tempo me cobri de cinzas, me vesti de ausências,
Adormeci, enlouqueci, me esqueci, enlutei.
Mas... não morri, é verdade...
Apenas descobri o quanto me entristeci com as voltas que a vida dá
sem pedir licença
ou oferecer agasalho.
Preciso voltar à vida...
Estou que nem semente se abrindo para o clarão
só que lentamente despontando
lentamente ganhando força
Lentamente revolvendo a terra sobre mim
E muito mais vagarosamente ainda abrindo os olhos
e tentando recomeçar a enxergar o mundo à volta.
Estou de pele nova nesta lua nova.
E por isso mesmo ainda sentindo frio
muitos arrepios
e uma irreparável saudade.
Espero que os textos aqui escritos possam cumprir a sua missão: viajar pelos espaços, desfazer os fios tênues das barreiras virtuais e espirituais que nos aprisionam, nos libertar de nossos imaginários exílios interiores e tocar a todos que aqui chegam. Ainda que à distância.
Sinta-se abraçado(a).