sexta-feira, junho 26, 2009

FRENTE AOS ENIGMAS

À Mulher Selvagem que habita em cada uma de nós


Sou uma ficção. Uma invenção de mim mesma. Uma fantasia. Uma alegoria. Crio e me re-crio a cada instante. Como na ciranda dos átomos. Meu corpo não me traduz. Minha alma não se revela na palma de minha mão. Meu destino desmente todos os horóscopos que tão cuidadosamente consulto. Não há oráculos e deuses que me ousem decifrar! Essa tarefa é minha e dela não posso abdicar. É um reino cujo governo está sob minhas mãos! E não é nada fácil conquistar seus hemisférios. Às vezes - inúmeras vezes! - me sinto neles perdida. Invoco as fadas-madrinhas com suas varinhas de condão. Dirijo-me às esfinges. Quero respostas! Só me fornecem enigmas!. Nada de avisos ou sinais. Queixo-me ao luar. As ressonâncias de meus ecos se perdem na densa floresta! Só então descubro que essa parte da tarefa é minha. Me ponho a recolher cuidadosamente as pedrinhas e os ossinhos com que assinalei os caminhos obscuros, sombrios e tão mal conhecidos. E com eles danço ao redor do fogo e entoo cantos profundos ao anoitecer. Sob os beirais das madrugadas úmidas, descanso. Aguardo o dia tirar seu véu e me oferecer o mar em chamas.


Continuo acreditando no amor, na força do bem, no ciclo das estações, nos ritmos da lua, na pulsação das marés, no movimento das estrelas. Preciso tão-somente de água, ar, lua, luz, sonho, pão, abrigo, calor, trabalho e fantasia - elementos simples de uma ordem imutável e intangível a que todos pertencemos – para respirar, me sentir viva e continuar mar afora. Respeitando sempre a alternância da força das correntes e o fluxo das águas.

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