segunda-feira, junho 29, 2009

DE MULHERES, HOMENS E ROBÔS (Envelhecer ficou proibido)



Em que espelho ficou perdida nossa face? Que memórias do tempo tatuam nossos corpos e nossos espíritos? Onde estão nossos fluxos com suas alternâncias e pulsações? Por que as belas de ontem se transformaram nas feras adormercidas de hoje? Onde está aquela sombra primitiva e sagaz que se põe sempre atrás de nós sob quatro patas, vigilante, preservando o território? Por que esse desejo febril - muito além dos 40 graus ou dos 40 anos! - de continuamos belas e alienadas? Por que essa idêntica sangria contaminando o território masculino? Em que mitos se apóiam nossos atuais cavalheiros? Onde estão seus heróis montados em seus cavalos que sabem falar inglês? Em que recantos sombrios e escuros do jardim (não mais) se escondem seus caubóis? Onde estão o rei e seus cavaleiros? Os príncipes e seus dragões?


Nossas terras espirituais estão sendo saqueadas, condenadas, reduzidas e esmagadas. Por que temos que nos forçar aos ritmos artificiais de outros cios e ciclos? Onde estão nossos naturais refúgios? Por que não podemos continuar naturalmente mutantes? Por que estamos ficando desertos de nós mesmos? Por que nossa pele e nosso corpo perderam sua vida própria? Por que as águas atuais só querem refletir imagens desencarnadas de antigas forças?


Nos prendemos no cativeiro. Não contamos mais nossas idades pelas marcas de nossos combates, ou pelas estórias que vivemos (com seus finais felizes ou não), ou, ainda, pelas lembranças de momentos fortes em nossas vidas. Não assinalamos mais nossas passagens pelas vezes que abraçamos, demos sonoras gargalhadas universo a fora e beijamos de tirar o fôlego! Em que gavetas da memória ficaram registrados nossos vínculos, nossos ninhos, nossas crias, nossas teias, nossas armadilhas e o calor de corpos suados, cansados e felizes?


Nosso chão interior se esfriou, nossas garras se esfriaram. Nós nos resfriamos. Esquecido de si, o corpo se congela no tempo, se divorcia do relógio, em meio a balbucios e risos abafados de botox, lipos, liftings, silicones, drenagens. Já não respira mais em seus movimentos sutis, delicados, imperceptíveis. E, enquanto isso, os termômetros continuam registrando muito além de 40 graus, o Planeta está febril e rios subterrâneos continuam se abrindo em chamas. E nós, aqui, nos petrificando. Um dia viramos robôs!

Nenhum comentário:

Postar um comentário